A endometriose pode matar sim!

A endometriose é uma doença crônica que afeta de 5 a 15% das mulheres com idade fértil. A inflamação crônica resultante dela está ligada ao risco aumentado de várias doenças, tais como: aumento do risco de doenças cardiovasculares, câncer, doenças neurodegenerativas (Alzheimer), doenças autoimunes/reumatoides.

A doença cardiovascular aterosclerótica é a principal causa de morte em mulheres, com uma incidência aumentando acentuadamente após a menopausa. Pacientes jovens do sexo feminino com endometriose podem ter um risco maior ao longo da vida de desenvolver doenças cardiovasculares que podem não ser reconhecidas devido à idade jovem das mulheres. Evidências científicas sugerem que mulheres jovens com endometriose e possivelmente mulheres mais velhas com histórico de endometriose podem ter um risco maior de doença cardiovascular aterosclerótica, principalmente se a menopausa precoce for induzida.

Dois estudos recentes em larga escala mostraram maior risco de infarto do miocárdio, angina confirmada angiograficamente, cirurgia de revascularização do miocárdio, procedimento de angioplastia coronária ou stent, ou uma combinação destes, em pacientes do sexo feminino com endometriose laparoscopicamente confirmada.

Um estudo feito com base em registros hospitalares da Finlândia, entre os anos de 1987-2012, com óbitos acompanhados até 2014, acompanhou 98.214 mulheres, destas 49.956 apresentaram diagnóstico cirúrgico de endometriose ao longo do estudo (cerca de 50%).

No total, foram analisados dados de 2,5 milhões de pessoas, 34% delas apresentaram diagnóstico de endometriose em 17,3 anos. A idade média da população estudada foi de 53,7 anos.

Houve 1656 mortes no grupo não tratado cirurgicamente 98.246 e naquelas tratadas cirurgicamente 4291 mortes. Neste último grupo, as causas de morte foram: neoplasias malignas (49%), doenças do sistema circulatório (16%), acidentes e violência (7%),  doenças relacionadas ao álcool e envenenamento acidental por álcool (5%). 

A mortalidade geral por neoplasias malignas e por doenças do sistema circulatório diminuiu significativamente no grupo tratado cirurgicamente. Também houve diminuição da mortalidade por outras causas de morte, como doenças do sistema respiratório e diabetes. 

Nenhuma diferença de mortalidade foi observada com demência, doença de Alzheimer nem estas juntas, outras doenças do sistema nervoso e órgãos dos sentidos, suicídios. A diminuição da mortalidade pode resultar em parte da atenção e cuidados recebidos pelos pacientes com endometriose, mas também fatores hormonais e de estilo de vida podem desempenhar um papel importante.

Uma revisão feita nos artigos do PubMed desde o seu início até 2017 revelou as complicações mais frequentes na gestação, no parto e no pós parto (que podem levar a óbito as pacientes) decorrentes da endometriose:

  • 17 Casos de Perfuração Intestinal durante a gravidez
  • 39 Casos de Hemoperitônio.
  • 55 Casos de Uro peritônio (Treinante 1)
  • 63 Casos de Ruptura Uterina (Treinante 1)
  • 10 Casos de Apendicite
  • 25 Casos de Distorção da anatomia do sistema renal (Treinante 1)

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Outras complicações decorrentes da doença são:

a) estados anêmicos severos induzidos por sangramentos intensos e permanentes.

b) falência renal induzida por endometriose uretérica associada à adenomiose. A endometriose ureteral é geralmente subestimada devido à sua natureza lenta e silenciosa, geralmente manifestando-se tardiamente como uropatia obstrutiva. Por fim, há perda silenciosa da função renal e nefrectomia em 30 a 40% dos casos. Em casos severos de endometriose, pode sim levar à falência de ambos os rins, mas infelizmente tal falência, que pode levar a morte se o paciente não for tratado a tempo, nunca ou quase nunca é associada à endometriose (embora seja decorrente dela).

c) obstrução intestinal, que pode levar à perfuração e à infecção generalizada (sepse)

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Casos Clínicos:

  1. Uro Hemoperitônio – Morte Fetal
    1. Uma mulher de 25 anos com endometriose profunda não operada do ligamento uterossacral repentinamente experimentou dor abdominal intensa, hematúria, hemoperitônio e morte intra-uterina às 31 semanas de gestação. A intervenção cirúrgica revelou hemorragia ativa decorrente da artéria uterina direita e interrupção do ureter em uma área de nódulo endometriótico previamente documentado, mas não tratado. O exame histológico confirmou a presença de endometriose decidualizada neste local. O uro hemoperitônio durante a gravidez é uma complicação rara, mas possível, em mulheres portadoras de nódulos endometrióticos peritoneais profundos.
    2. No trato urinário, a bexiga é o local mais comum de endometriose. Um estudo anterior relatou um uro hemoperitônio durante a gravidez em uma paciente com endometriose profunda que resultou em morte fetal.
  2. Choque hemorrágico por hemoperitônio causado por endometriose.
    1. Casos graves de complicações durante a gravidez, incluindo hemoperitônio espontâneo, perfuração digestiva (com sepse) e ruptura ureteral foram associados às alterações puerperais das lesões endometrióticas. Não há evidências claras de que a cirurgia possa prevenir risco obstétrico em caso de endometriose. ( Treinante 1)
    2. O tecido decidualizado nos locais ectópicos pode crescer durante a gravidez para adquirir uma aparência grosseira que imita macroscopicamente um tumor maligno. Mesmo que a deciduosis seja geralmente um fenômeno assintomático e não seja detectada durante a gravidez, algumas complicações perturbadoras foram relatadas repetidamente. Todos eles estavam relacionados ao aparecimento clínico de uma hemorragia intraperitonial maciça devido à ruptura dos vasos pélvicos pelo aumento de implantes peritoneais profundos. (Treinante 1)
    3. A intervenção cirúrgica revelou uma hemorragia ativa do peritônio. Endometriose e gravidez artéria uterina direita e vazamento de urina devido à interrupção do ureter direito na área de um nódulo endometriótico documentado, mas não tratado, laparoscópico[7].2) Uma laparotomia exploratória de emergência foi realizada em uma paciente 3 dias após o parto. (Treinante 1)
  3. A endometriose do apêndice também foi diagnosticada como apendicite. O apêndice foi retirado e a paciente por pouco não veio a óbito.
  4. Perfuração Intestinal em Cirurgia Pós-parto – (Treinante 1 em 2019 – Pós-Parto – Sepse Generalizada – Internação por 3 meses).

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