Dia das Mães e a Exclusão Psicossocial da Mulher Moderna

Por Jô Jantsch R.

Bom dia a todas às mulheres, MÃES (meninas com crianças internas feridas pela “dádiva” da maternidade) e também às treinantes.

São 3 da manhã de 12 de maio de 2022.

No último domingo comemoramos no Brasil e em alguns outros lugares do mundo o Dia das Mães, ma data comemorativa que homenageia anualmente a figura familiar materna e a maternidade.  Muitas agora devem estar pensando, o que isto tem a ver com o feminismo e a exclusão psico-social da mulher moderna, calma já chegarei lá.

Depois de ler muitos textos, desabafos e relatos a respeito de como as mulheres-mães se sentem durante o exercício da maternidade; e, também por sentir-me extremamente alijada do direito de comemorar, com toda pompa e circunstância (como fazíamos antigamente, ofertando a nossas mães presentinhos feitos por nós em comemorações nas escolas, p.ex), decidi escrever este texto, preparem-se porque vai ser um pouco longo.

Primeiramente, este texto é um alerta às tentantes e futuras mamães: não a maternidade não é um mundo mágico e cor-de-rosa, cheio de unicórnios e arco-íris. Para a grande maioria das mulheres ela é composta de 2 fatores: RESPONSABILIDADE e SOBRECARGA.

Na teoria, se você for uma mãe realmente abençoada: você sem muito esforço ficará grávida quando desejar, contará com um parceiro ou parceira que te apoia 100% na empreitada e com uma rede de apoio familiar e profissional para te ajudar com os afazeres domésticos depois que o bebê sem deficiências, síndromes e neuro típico chegar ao mundo.

E, com mais sorte ainda, a sua rede de apoio vai ser composta por pessoas sempre prontas a te ajudar, que não te olhem feio e não te critiquem quando você precisar tomar um banho ou dormir um pouco.

Este seria o quadro ideal.

Infelizmente, mesmo que muitas mulheres tenham se organizado durante anos para serem mães, por circunstâncias alheias a sua vontade, tais como dificuldades para engravidar, abortos de repetição, necessidade de repouso durante a gestação, problemas durante o parto e também durante o pós-parto, o sonho da maternidade cai por terra.

Das mães do mundo real, quer elas tenham passado por problemas ou não no parto e no pós-parto, são exigidas uma série de tarefas, além daquelas que seriam naturais a uma boa mãe, tais como cuidar da criança, da casa, acompanhar o crescimento de seus filhos, educá-los com esmero para que não atrapalhem a vida social da família. E, ainda, claro, que se mantenham belas, formosas, tolerantes e pacientes, tanto no trato dos filhos quanto do companheiro (a).

Isto é possível? Sim, para as abençoadas por uma situação financeira privilegiada, por uma saúde de ferro e por filhos totalmente saudáveis. E, ainda assim é difícil!

Já a maioria de nós, que “acorda” em modo zumbi as 5 ou 6 da manhã, a realidade é outra, andamos por aí, na maioria do tempo com os cabelos despenteados, sem maquiagem, às vezes até mesmo doentes, levando as crias pra lá e pra cá: para escola, médicos, dentistas, casa dos avós, terapias, etc.

Quando chegamos em casa, temos que dar banho, dar comida, trocar fraldas. E, a caro custo, talvez de muito tempo conseguir fazer com que o outro genitor entenda a diferença entre ajudar com as tarefas e dividir igualitariamente.

Afinal, a maioria dos papais, trabalhadores deste Brasil, acha que está cumprindo bem a tarefa de ser pai, porque trabalha 8h por dia (sem ter bebês chorando e crianças te chamando toda hora). Enquanto que as mães em tempo integral ficam 24h em alerta e as que trabalham quando chegam em casa também tem que ficar em alerta.

Ser MÃE é um estado eterno de sobreaviso, ainda mais se além de mães de nossos filhos, encamparmos a tarefa de cuidadores de nossos pais. Acabamos neste processo deixando de lado nossa individualidade, nosso autocuidado, nossas vontades, desejos e necessidades mais básicas. Deixamos, muitas vezes, de ser vistas como mulheres!

E, quando ousamos pedir uma trégua do pandemônio, da sobrecarga de responsabilidades, ou ainda, falar sobre isto, somos taxadas de neurastênicas, detestáveis e irresponsáveis. Não podemos ficar frustradas, gritar ou chorar. Vivenciamos uma total anulação do Eu.

Então voltando ao começo de tudo, neste ano, devo confessar que tinha grandes expectativas sobre o Dia das Mães, pois este seria o primeiro de muitos na Escolinha, mas para minha surpresa Maternidade Moderna não é mais comemorada como antes.

Hoje, as mamães não devem mais ser homenageadas por seus filhos, em celebrações escolares, pois o Dia das Mães foi substituído pelo Dia da Família, que nem de longe representa o mesmo.

Hoje, mal e porcamente, as crianças fazem lembrancinhas para suas mães e as devem entregar quase que em segredo, tirando delas o direito de homenageá-las adequada e merecidamente. Acabamos assim por excluir social e psicologicamente todas as mulheres anteriormente citadas. Acabamos por tirar destas mulheres, um de seus direitos mais sagrados: o direito de celebrar o seu papel de mãe!

Através da substituição do Dia das Mães pelo genérico Dia da Família, as Escolas “politicamente corretas” praticam a inclusão pela exclusão!

O Dia da Família deve ser sim comemorado em dia diferente do Dia das Mães, afinal todos devem se sentir acolhidos e protegidos e não somente alguns que são tidos como mais vulneráveis!

(A vulnerabilidade psicossocial das mães responsáveis e sobrecarregadas que lutaram, por anos ou não precisaram fazer isto, para ter e criar seus filhos neurotípicos e atípicos da melhor forma possível, não deve ser considerada menos preciosa do que a daquelas crianças sem mãe. Todas são vulneráveis do mesmo jeito.

E, para finalizar deixo aqui um #ficaadica para as Escolas que somente praticam o Dia da Família, pensem com carinho no fato de que as mães de crianças neuroatípicas não verbais e com dificuldades de socialização, que talvez nunca venham a ser chamadas de Mãe ou propriamente abraçadas pelos seus filhos; estas mães tem sim uma certa necessidade de receber um agrado/lembrancinha de seus filhos a quem se dedicam integralmente, sem muitas vezes nem mesmo poder trabalhar, com os dizeres que jamais ouvirão: Mamãe, Feliz Dia das Mães, Te Amo!)

FELIZ DIA DAS MÃES, A TODAS AS MÃES TÍPICAS OU ATÍPICAS, ÀQUELAS QUE FORAM DEVIDAMENTE HOMENAGEADAS E, PRINCIPAMENTE, ÀQUELAS QUE FORAM EXCLUÍDAS PELO HIPOCRITA E POLITICAMENTE CORRETO!

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